A pandemia dentro da pandemia
A pandemia de COVID-19 trouxe não apenas uma nova ameaça à saúde pública mas uma reação poucas vezes vista das autoridades, a todos os níveis: local, nacional e internacional. Embora muitas das medidas agora adotadas para combater a nova doença já tenham sido utilizadas em outras pandemias (distanciamento social, por exemplo), a dificuldade que as autoridades sanitárias enfrentam para serem ouvidas em meio à cacofonia dos meios de comunicação e das redes sociais é seguramente sem precedentes. Nunca houve tanta informação disponível. Mas nunca houve tanta dificuldade para separar a informação confiável da desinformação.
A Organização Mundial da Saúde tem um termo para isso: Infodemia. A doutora Sylvie Briand, diretora de Preparação para Ameaças Infecciosas Mundiais na OMS, compara a infodemia a um “tsunami de informação e desinformação”, que precisa ser domado para proteger a saúde pública. A dra. Briand acredita que quando as pessoas recebem informações acuradas e confiáveis, têm mais probabilidade de agir de forma correta e contribuir para o bem geral, ainda que isso signifique passar por algumas dificuldades pessoalmente.
Segundo a Organização Pan Americana da Saúde (OPAS), Escritório Regional da OMS para as Américas e o Caribe, a desinformação é uma informação falsa ou imprecisa cuja intenção deliberada é enganar. No contexto da atual pandemia, a desinformação pode afetar profundamente a saúde mental das pessoas. Dada a dificuldade para separar a informação bem fundamentada da desinformação, o risco de propagação de notícias falsas ou enganosas é muito grande. Isso pode mudar o comportamento das pessoas, fazendo que elas corram riscos maiores, não apenas para sua própria saúde, mas para a saúde de seus familiares e de toda a comunidade. Em última medida, a circulação de notícias sem embasamento científico compromete especialmente o alcance e a sustentabilidade do sistema global de saúde.
Basta uma rápida olhada nas postagens no Facebook ou nos grupos de WhatsApp, por exemplo, para perceber que circulam informações imprecisas e falsas sobre todos os aspectos da COVID-19: como o vírus se originou, a causa, o tratamento e seu mecanismo de propagação. Há tantas postagens sobre a necessidade ou não do distanciamento social para desnortear a qualquer um que tente entender o assunto.
Segundo os especialistas da OPAS e da OMS, a infodemia pode agravar a pandemia de diversas maneiras. Primeiro, porque dificulta que as pessoas encontrem fontes idôneas e orientações confiáveis tão necessárias hoje. Segundo, porque o excesso de informações pode deixar as pessoas ansiosas, deprimidas, sobrecarregadas e emocionalmente exaustas. É preciso ter em conta, dizem os mesmos especialistas, que não há controle de qualidade do que é publicado. Qualquer pessoa pode escrever ou publicar qualquer coisa na Internet, principalmente nos canais das redes sociais. Por isso é fundamental interromper este ciclo perigoso: a desinformação se expande no mesmo ritmo que a produção de conteúdo, e as vias de distribuição se multiplicam. Assim, a própria infodemia acelera e perpetua a desinformação.
Recentemente, a Rede de Informações da OMS sobre Epidemias (EPI-WIN) realizou uma consulta mundial on-line de dois dias sobre como controlar a infodemia de COVID-19. Um grupo interdisciplinar de especialistas e 1375 participantes participaram de uma reunião através de um aplicativo, de onde surgiram mais de 500 ideias para combater a infodemia. A OMS criou em seu website e em suas redes sociais uma seção de “myth busters” (informações para desfazer mitos) e entrevistas ao vivo com especialistas, além de estabelecer canais de comunicação com redes como Facebook, YouTube, Baidu, Twitter, TikTok e outras, para excluir mensagens falsas e promover informações precisas de fontes confiáveis como a própria OMS e os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
Em alguns pontos, os infectologistas e outros profissionais de saúde pública são unânimes. É necessário sempre verificar da melhor maneira possível se a informação que lemos realmente faz sentido, mesmo que provenha de uma fonte segura e já tenha sido compartilhada, antes de apertar o ícone de compartilhar. Caso não seja possível confirmar a fonte da informação, sua utilidade, ou se já foi compartilhada antes, é melhor não compartilhar.
O ponto mais importante é evitar usar redes sociais e sites noticiosos em demasia, especialmente neste momento em que quase todas as pessoas estão em casa e a tentação de estar conectado todas as horas é difícil de resistir. Manter o estresse sob controle – garantem os especialistas – é uma das melhores medidas de prevenção que podemos tomar durante a pandemia.

* Paulo Leite é jornalista e vive em Washington DC desde 1992. Atualmente é consultor em novas mídias, além de trabalhar por mais de 24 anos na Organização Panamericana da Saúde, como produtor de documentários e um dos responsáveis pela presença da OPAS na Internet.Seus textos serão publicados na segunda semana de cada mês.
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