“Dia do Homem” e mais de 1000 pênis amputados por ano: quando a desinformação esbarra na saúde
8 de março de 2023. O aumento repentino de buscas no Google pelo termo “Dia do Homem”, justamente na data em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, levanta questionamentos que não deveriam ser deixados de lado e acende um alerta para o que realmente importa: o machismo exacerbado que ainda ceifa vidas quando o assunto é saúde, prevenção e autocuidado.
De origem operária, o Dia Internacional da Mulher levanta bandeiras até os dias de hoje pela autonomia de corpos, direitos iguais, equiparação de salários, fim da cultura do assédio e muito mais. O Dia do Homem, embora exista no calendário, não possui o mesmo significado que o dia dedicado à mulher – um fato que parece doer muito mais na população masculina que realiza essa busca do que os fatores muito maiores que nos levam a ter, até os dias de hoje, a necessidade de defender com unhas e dentes a existência feminina como algo de direito.
Ao mesmo tempo, o interesse de buscas por homenagens para o “dia do homem” parece ser inversamente proporcional a uma questão séria, porém deixada de lado por grande parte da população masculina: a saúde.
Por ano, mais de 1000 homens têm o pênis amputado de forma parcial ou total devido a falta de higiene ou câncer no membro; um levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que mais de 65 mil casos de câncer de próstata são diagnosticados no Brasil anualmente; dentro desse mesmo período, 15 mil pacientes perdem a vida por causa da doença.
Os sintomas de câncer de próstata não costumam aparecer na fase inicial da doença. Em 95% dos casos, eles podem ser percebidos somente quando a neoplasia está em estágio avançado. E uma das principais formas de detecção desse tipo de câncer, o 2º tipo mais comum em homens, é por meio do exame de toque, obrigatório para homens a partir dos 50 anos ou 45 anos caso haja histórico familiar.
O tabu e a masculinidade frágil, no entanto, impedem que o diagnóstico precoce seja feito e vidas sejam salvas. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia descobriu que 49% dos homens nunca realizaram um exame de toque. Um levantamento feito pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida trouxe à tona que apenas 37% dos brasileiros já fizeram esse exame, e esse número cai para 26% quando falamos de homens atendidos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Os dados ainda não melhoram a partir daqui: durante a pandemia, a Sociedade Brasileira de Urologia realizou um estudo e descobriu que 55% dos entrevistados deixou de ir ao médico durante esse período – e 6% deles admitiram que não se cuidavam ou não olhavam para o cuidado com a saúde de forma habitual. Essa porcentagem pode parecer pequena, mas ainda assim é assustadora pensando no cenário.
Um dos causadores de câncer de pênis é o vírus do HPV, uma infecção sexualmente transmissível e para a qual existe uma vacina. Estima-se que 80% dos indivíduos irão entrar em contato com algum tipo de HPV ao longo da vida – e, ainda assim, a cobertura vacinal está abaixo do esperado. Menos de 40% do público-alvo da campanha de vacinação está protegido com duas doses. E, para fechar: uma pesquisa do IBGE mostrou que 59% dos entrevistados acima de 18 anos não usam preservativo em suas relações sexuais.
A avalanche de dados deixa claro que, para muitos homens, a saúde não é uma questão importante a ser levada em consideração – por mais que ela seja o nosso principal pilar de existência. Chega a ser estarrecedor que um aumento de buscas por “dia do homem” seja um fato diante de todos os números levantados até agora.
Números que poderiam ser mais baixos se o interesse por um dia fictício e comemorativo do homem fosse o mesmo pelo cuidado com a própria saúde.
Seja homem. Cuide da sua saúde para poder estar aqui e colaborar, também, com a construção de um futuro melhor, mais saudável e mais justo.