Fadiga, outro efeito colateral da pandemia
Distanciamento social. Média móvel. Teletrabalho. Hidroxicloroquina funciona. Hidroxicloroquina não serve para nada. UTI. Fase amarela. Fase verde. É de estranhar que estejamos todos cansados da pandemia da COVID-19? Os meses vão passando e a pandemia não dá sinal de acabar. Muito pelo contrário.
Nos Estados Unidos, o número diário de infecções subiu recentemente a mais de 180.000 e não há aumento no número de testes que possa explicar tais números. Na Europa, a tão temida “segunda onda” já é realidade há várias semanas. No Brasil, onde os números estavam em queda, já reverteram a tendência, e muitos hospitais avisam que estão a caminho da sobrecarga.
Tudo isso gera o que os especialistas estão se referindo como pandemic fatigue. Trocando em miúdos: está todo mundo cansado dessa pandemia. O resultado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é o de que “as pessoas estão se sentindo desmotivadas sobre o cumprimento dos comportamentos necessários para proteger a si mesmas e aos outros do vírus”.
Para tentar chegar a um acordo sobre as medidas necessárias para combater a fadiga da pandemia, especialistas de mais de 30 países participaram de uma consulta remota promovida pelo escritório da OMS para a Europa. Eles examinaram as causas principais do fenômeno e como a fadiga é afetada pelo ambiente cultural, social, estrutural e legislativo dos diferentes países.
A OMS define a fadiga da pandemia como uma reação natural e já esperada à adversidade continuada e sem solução que a pandemia do novo coronavírus impõe a todos. A professora Cornelia Betsch, da Universidade de Erfurt, na Alemanha, explica que o primeiro fator de motivação para que as pessoas adotassem medidas de prevenção e proteção foi o medo. O problema, segundo ela, é que o medo vai desaparecendo ao longo do tempo, à medida em que as pessoas vão se adaptando à ameaça. A fadiga também ocorre, segundo a professora, quando fazemos sempre as mesmas coisas por um período prolongado de tempo.
Quase todos os participantes da reunião virtual promovida pela OMS Europa tocaram nos mesmos pontos: a importância de ajudar as pessoas que têm seu ganha-pão ameaçado pela pandemia; a proteção dos empregos; a eliminação das barreiras que dificultam a obediência às recomendações dos especialistas (como falta de acesso a água potável, ao álcool e outros desinfetantes ou às máscaras, e moradias com pouco espaço e muitos habitantes, por exemplo). A necessidade de um trabalho constante na proteção à saúde mental das pessoas também foi apontada como essencial por muitos dos especialistas consultados.
Com base nas discussões da consulta virtual, o escritório da OMS para a Europa criou um framework para o combate à fadiga da pandemia. Seus quatro pontos principais são:
- Entender as pessoas: coletar e usar evidência para criar políticas públicas, intervenções e estratégias de comunicação que sejam bem dirigidas e efetivas;
- Fazer com que as pessoas se vejam como parte da solução: encontrar formas concretas de envolver indivíduos e comunidades em todos os níveis do combate à COVID-19;
- Ajudar as pessoas a reduzir o risco enquanto desenvolvem atividades que trazem prazer e satisfação: restrições demasiado drásticas são contraproducentes depois de um período de tempo;
- Reconhecer o profundo impacto da pandemia na vida das pessoas e as possíveis dificuldades financeiras decorrentes dela.
Ainda, segundo a OMS Europa, qualquer plano de combate à fadiga da pandemia deve basear-se em cinco pontos principais: transparência, justiça, consistência, coordenação e previsibilidade.
As notícias alvissareiras sobre vacinas para prevenção da COVID-19 trazem muita esperança de que a pandemia se transforme em parte de uma vida parecida com aquela que sempre consideramos normal. Afinal, quase todos se vacinam contra a gripe a cada ano e vacinam as crianças contra doenças potencialmente letais. Enquanto esse (desculpem) “novo normal” não chega, é preciso cuidado com a fadiga da pandemia. É preciso evitar a complacência, para continuar a proteger indivíduos e comunidades.

* Paulo Leite é jornalista e vive em Washington DC desde 1992. Atualmente é consultor em novas mídias, além de trabalhar por mais de 24 anos na Organização Panamericana da Saúde, como produtor de documentários e um dos responsáveis pela presença da OPAS na Internet.Seus textos serão publicados na segunda semana de cada mês.
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